Bar

Fiz uma careta de dor assim que o Keith me pegou e encostei a cara ao peito dele, suspirando ao sentir todo o meu corpo a doer-me bastante - Peter. - respondi com um ligeiro encolher de ombros, tentando manter-me encostada a ele por causa do quentinho se bem que quanto mais contacto pior era, porque mais me doia - Chama uma ambulância. - disse depois de o ouvir, já que sabia que ele não ia conduzir e de qualquer das formas tínhamos vindo a pé. E para irmos a pé para o hospital, tínhamos muito que andar por isso só havia essa opção.

Sentei-me num muro pequeno e coloquei-a com cuidado no meu colo - agarra-te a mim -disse não me importando minimamente com o sangue que ela tinha e me podia sujar. Assim que agarrei no telemovel levei-o ao ouvido e fechei os olhos com o coração a saltar-me do peito - Peter quê? - perguntei - onde é que ele vive? - perguntei e assim que atenderam pedi uma ambulância urgente explicando o que tinha acontecido.

Encostei-me melhor ao peito do Keith, tentando agarrar-me a ele para não cair quando ele se sentou num muro e fiz uma careta ao ouvi-lo fazer aquelas perguntas - Não te vou responder a nada disso como é óbvio. - disse-lhe com um suspiro, sentindo-me cada vez mais cansada e com dores, as dores começavam a aumentar. Deixei-me estar calada, com a cara encostada à camisola dele, a sentir o cheirinho do Keith enquanto o ouvia a explicar pelo telemóvel o que se tinha passado - Eles que se despachem. - resmunguei.

Quando desliguei o telemóvel passei os dedos pela bochecha dela - não precisas de me responder a nada, eu consigo encontra-lo. - O álcool ainda não me tinha passado e quando estava bêbado ficava sempre mais agressivo, era impossível evitar, mas, mesmo que não estivesse, ia fazê-la responder às minhas perguntas para saber quem era o nojento do gajo. - Eles vão chegar rápido.

Fiz uma careta com o que o Keith disse e ainda pensei em revirar os olhos mas isso era demasiado cansativo e já me sentia cada vez menos fora do meu corpo, parecia que estava a flutuar - Não vais não. - murmurei com um suspiro. Assenti com a cabeça quando o voltei a ouvir falar, desta vez para dizer que eles se iam despachar e abri a boca - Acho que vou - não cheguei a acabar a frase porque antes de lhe dizer que ia desmaiar, fi-lo mesmo.

Ia, ia apanha-lo e ia lixa-lo todo. Mordi o lábio com força e estava tão entretido com o meu plano de vingança que só percebi que ela ia desmaiar quando não disse nada. Fiquei ligeiramente sem reação no início, só conseguindo reagir quando senti os olhos a arderem. Respirei fundo aos tremeliques sem dizer o que quer que fosse e fechei os olhos. Não ia acontecer nada, ela ia ficar bem. - Jess - murmurei baixinho. Tanta porcaria de medo para não lhe ter dito que a amava antes disto tudo.
Acontecia sempre alguma coisa. A Sophie tinha morrido, as outras tinham ido parar ao hospital e desaparecido. A culpa devia ser mesmo minha, eu devia ter algum defeito qualquer, porque se isto continuasse assim ela ia parar ao hospital, sobreviver e ia embora. Isto, se sobrevivesse. Os meus pensamentos já não faziam sentido nenhum, mas só consegui largar Jessica quando uma mulher me tocou nos ombros para me fazer olha-la dizendo qualquer coisa que eu não estava a ouvir, mas assenti deixando que eles tratassem dela.

Abri os olhos de repente e respirei fundo, sem saber o que se tinha passado e onde me encontrava. Comecei a mexer-me mas isso só fez com que as dores que tinha no corpo todo me fizessem parar num segundo. Fechei os olhos por um bocadinho e assim que me veio à memória o que se tinha passado, comecei a olhar em volta e percebi que estava numa ambulância - Jessica, como é que te sentes? - ouvi uma mulherzinha a perguntar-me enquanto me sorria.
- O Keith? - perguntei com a voz demasiado rouca para se parecer com a minha - Ele está - mais uma vez não cheguei a acabar a frase porque fui levada para a escuridão antes de o fazer.

Encostei a cabeça a um canto da ambulância, tinham-me mandado para aí, quase que não conseguia tomar em Jess, só dar-lhe festinhas no cabelo que estava espalhado pela maca. Levantei a cabeça quando ouvi a mulher falado com ela e tentei aproximar-me - Je.. - juntei as sobrancelhas e mordi o o interior da bochecha ao perceber que ela tinha desmaiado.
-Nós vamos tomar bem conta dela - prometeu-me a senhora, mas eu não queria saber das promessas dela, queria era que Jessica acordasse. Percebi que estávamos no hospital quando a ambulância parou e levantei-me logo esperando que eles a tirasse primeiro do carro.

Quando voltei a abrir os olhos, estava numa cama de hospital com uma bata horrível vestida. Fiz uma careta mas nem isso conseguia fazer muito bem por causa das dores. Até tinha medo de me ver ao espelho. Todo o meu corpo me doia mas sentia que nem conseguia falar, tal devia ser o estado da minha cara. Sabia que tinha um olho inchado porque não o conseguia abrir como deve ser e olhei em volta - Keith? - chamei baixinho sem conseguir falar muito. Ele tinha-me dito que não me ia deixar por isso tinha de estar ali, não tinha? A não ser que o Peter tivesse mesmo razão, estava num estado que já ninguém me queria, nem o Keith.

Estava a lutar contro o sono, tinha bebido demais e quando o efeito começava a desaparecer eu começava a entrar em ressaca, o que me fazia dormir e comer e também me deixava extramente sensível e podia despoletar as reações mais assustadores em mim. Neste momento estava apenas apático, lutava para que as minhas pestanas continuassem abertas. Agarrei-me à cama quando senti o meu corpo cair para a frente e foi aí que ouvi a voz dela. Despertei de repente e agarrei-lhe na mão sentindo o meu queixo tremer aos poucos. Os médicos tinham dito que ela ia ficar bem, mas eu nunca acreditava neles. Apesar de tentar lutar contra o que estava a acontecer as lágrimas começaram a cair sem eu dar ordem, quanto mais pestanejava mais caiam. Abracei-lhe a cintura com o braço livre e encondi a cara perto do seu corpo lutando contra os soluços.

Suspirei de alívio quando percebi que ele estava ali mas rapidamente senti o meu coração apertar quando percebi que ele estava a chorar, a chorar a sério. Credo, estava assim tão feia que o fazia chorar só de olhar para mim? Passei os meus dedos pelo cabelo dele assim que se veio agarrar e encostar a mim. Sentia-me a ficar com menos dores, os médicos deviam ter-me dado morfina ou algo semelhante mas mesmo assim, ainda sentia o meu corpo todo a doer bastante - Keith? - chamei baixinho preocupada - Não chores. - pedi com um suspiro - Está tudo bem.

Apesar de me terem dito que ela ia ficar bem eu estava tão aliviado por ela ter acordado que nem me conseguia controlar. Apertei-lhe a mão tentando não a magoar e não disse nada até conseguir acalmar-me um pouco. Quando finalmente consegui, limpei as bochechas deixando a cabeça deitada na cama e fui olhando-a aos poucos. O estado dela cada vez me revoltava mais, se apanhasse o cabrão que lhe tinha feito isto ia partir-lhe os ossos todos um por um e nem pena ia ter. - Eu pensava que não ias acordar - disse ainda com a voz meio tremida, só agora me dava conta que parecia uma bicha qualquer, por causa da minha voz e da situação toda, mas já estava tão farto das coisas que aconteciam sem parar, e era tudo tão rotativo que me fazia ficar saturado.