Bar

Fiquei a vê-los irem embora e só depois é que voltei para o balcão. Estava a limpá-lo quando senti uns braços rodearem-me a cintura.
- Leila.- suspirei, já estava farto daquela miúda.
- Ela já foi embora Ron, já podemos.- virou-me para ela, passando as mãos no meu peito e eu agarrei-lhe nos pulsos, afastando-a.
- Pára com isto, eu não quero nada contigo.- se ela não fosse mulher, eu juro que não estava a ter aquela calma toda.
- Queres sim, eu sei que queres.- resmungou, como menina mimada que era e esticou-se para a minha cara. Tentei afastá-la, sem a magoar, mas já só senti os seus lábios nos meus.

Depois de sentar Anne e ajudar Jonh a colocar o cinto, estava a procurar as chaves de casa e não as encontrei.
- Jonh, toma conta da Anne. Demoro cinco minutos. - disse-lhe, fechando a porta e trancando, tendo deixado um vidro um pouco aberto e a música a dar.
Subi as escadas que levavam ao café.
- Ron, acho que deixei aqui as... - comecei a dizer e depois deparei-me com o pior cenário de sempre. Ele não me podia ter feito aquilo. Não depois de eu me ter passado com a gaja.
Não sei o que me deu, nem como é que não comecei logo a chorar ou gritar, mas dirigi-me ao balcão e puxei os cabelos à gaja, fazendo-a bater com a cabeça no balcão.
- Esta é para não te meteres com mais nada do que é meu. E, já agora, aproveita. - disse-lhe ao ouvido baixo, num tom ameaçador.
Olhei Ron, completamente desiludida e peguei nas minhas chaves que estavam sobre a mesa; saí do café e dirigi-me ao carro, encostando a testa ao volante por momentos.
- Mamã? - chamou Anne e eu olhei-a.
- Mana, estás bem? - perguntou logo Jonh.
Assenti-lhe e sorri levemente, arrancando com o carro em direção a casa.

Estava a apertar os pulsos de Leila com força, pronto para a afastar, mas alguém o fez por mim. Quando levantei o olhar este já só se prendeu em Chris, que estava completamente vermelha a ferver de raiva.
- Chris..- murmurei, vendo Leila agarrada à cabeça, mas ela apenas me olhou, enquanto eu abanava a cabeça, saindo do café. Merda, merda, merda. Atirei o pano para o chão, bem como o meu avental e já só peguei nas minhas chaves do carro.
- Ron..- ainda ouvi a voz de Leila, enquanto estava a sair.
- Nem penses.- rugi. Isto tinha passado dos limites. Já sabia que vinha merda por causa disto. Cerrei o maxilar, saindo do bar a correr e entrei no carro o mais depressa que consegui, conduzindo para casa a alta velocidade.

Assim que entrámos no bar, aproximei-me do balcão e ri-me quando vi o Joseph a mexer nas garrafas como sempre - Já que estás com a mão na massa, os teus melhores clientes querem beber. - disse com um sorriso.
- Olha quem são eles. Era só o que mais me faltava. - disse o Joseph com um meio sorriso enquanto nos preparava as bebidas.
Encostei-me ao balcão enquanto olhava em volta e semicerrei os olhos quando vi o bar tão apinhado de gente. Dei um encontrão com a cintura ao Keith - Além da bebida também quero outra coisa. - disse-lhe com um sorriso inocente enquanto passava o meu dedo indicador pelos meus lábios.

-Até parece que te fartas de nós - disse a Jo enquanto ele nos preparava as bebidas. Olhei Jessica quando me deu um encontrão e beijei-lhe os lábios abraçando-lhe a cintura - está melhor? - perguntei baixinho levantando o olhar quando vi o meu copo e o dela já prontos. - Põe na conta - disse a Joseph, nós pediamos tantas bebidas que não valia a pena pagar já, e ele também conhecia-nos por isso sabia que não iamos fugir.

Abanei a cabeça enquanto o olhava - Não, isso foi pouco. - dei-lhe uma palmada no rabo antes de me afastar do Keith para agarrar no meu copo - Obrigada. - pisquei o olho ao Joseph e dei logo um gole na minha bebida - Apetece-me dançar. Danças comigo ou só gostas de dançar comigo depois de me arruinar as roupas? - perguntei ao Keith enquanto lhe semicerrava os olhos. Com mais um gole acabei a minha bebida e pousei o copo vazio no balcão, abanando a cabeça quando vi o Joseph já a preparar para o voltar a encher. Ainda tinha tempo para beber.

Agarrei-lhe na cintura, tendo cuidado para não a molhar com o meu copo e procurei pelos seus lábios beijando-a mais intensamente que da outra vez - e agora - rocei os meus lábios nos dela e afastei-me apenas um pouco para voltar a beber da minha bebida. - não, eu gosto de dançar quando já estou bêbado - admiti puxando-a na mesma para a pista de dança.

Mordi o meu lábio inferior enquanto o olhava assim que nos afastámos para recuperar o ar e assenti com a cabeça - Sim, agora está bem melhor. - roubei-lhe o copo da mão enquanto nos dirigiamos para a pista de dança e dei um gole na bebida, devolvendo-lho de seguida. Encostei-me ao peito do Keith e agarrei no braço livre dele para que o colocasse na minha cintura enquanto me abanava ao ritmo da música que estava a tocar nas colunas. Sempre que me lembrava de estar a dançar ali no bar, só me conseguia lembrar de mim, podre de bêbada e semi despida a fazer figuras.

Semicerrei-lhe os olhos quando bebeu do meu copo e abracei-lhe a cintura puxando pela cintura enquanto dançávamos os dois. Beijei-lhe a testa encostando-a a mim quando a música acalmou e sorri mandando o meu copo para o chão depois de beber o último gole que ainda tinha. - Devia-te ter conhecido há mais tempo - disse de olhos fechados.

Coloquei os meus braços ao redor do pescoço do Keith enquanto me encostava ao peito dele e sorri quando ouvi o que ele disse - Se me tivesses conhecido antes não valia de nada. - senti um pequeno arrepio quando me lembrei do dia em que tinha estado completamente bêbada e ele me tinha dito que o desenho da rapariga que ele tinha no caderno era a namorada morta dele - Por isso ainda bem que nos conhecêmos quando nos conhecêmos. - fiz uma careta e ri-me - Mais vale tarde do que nunca.

Mordi a parte de dentro da bochecha quando ela disse que não tinha valia de nada e assenti com a cabeça. - É, tens razão - assenti com a cabeça e parei de dançar puxando-a para o bar - vamos beber outra bebida - disse sentando-me num dos bancos vazios que estavam ao balcão puxando-a para que viesse comigo - outro igual - disse a joseph.

Aproximei-me do balcão assim que o Keith me puxou para o mesmo e mal o Joseph pousou as nossas bebidas à nossa frente, peguei no meu copo e bebi o conteúdo de uma só vez. Dei um pulinho de alegria assim que a música que estava a dar mudou e começou uma que eu gostava bastante. Agarrei nas mãos do Keith e olhei para ele com um sorriso - Vamos dançar! - pedi-lhe com um sorrisinho enquanto o puxava para voltarmos para a zona central do bar onde haviam mais, pouca, mas mais gente a dançar também.

Revirei os olhos quando mal me deu tempo para beber porque queria dançar e fui com ela agarrando-lhe na mão. - Tens que ter calma, ainda não estou suficiente quente para acompanhar a tua pedalada - disse fazendo um gesto com a mão para que ela me percebesse com aquela música barulhenta.

Revirei os olhos quando ele começou a resmungar por eu o estar a puxar para dançar - Deixa lá, eu vou dançar. - disse simplesmente enquanto lhe virava costas e caminhava mais para o meio da multidão que já estava a dançar muito animada. Estava ligeiramente mais irritadiça como acontecia sempre que bebia e ter estado a jantar com ele com uma estúpida de mamas falsas a fazer-se a ele e depois recordar todas as namoradas do Keith, deixava-me ainda mais irritada. Eu nunca tinha tido namorados, quer dizer, no máximo tinha tido dois e nunca tinha gostado deles por ai além mas ele tinha gostado de elas todas, e era isso que me fazia sentir tão mal.

Quando estava a começar a dançar ela virou costas. - O qu... - juntei as sobrancelhas e olhei para o Joseph que estava a ver tudo e encolheu os ombros. Eu também não estava para ir atrás dela, era melhor deixa-la um bocado sozinha para ver se a neura lhe passava, eu só lhe tinha pedido calma. Fui até ao bar e sentei-me no banco pedindo mais uma bebida com um suspiro. Isto começava agora a dar para o torto.

Estava muito bem a dançar sozinha quando de repente senti que tinha alguém a olhar para mim. Juntei as sobrancelhas sem saber se era uma alucinação ou era da bebida e olhei para trás, para ver se era o Keith. Como percebi que não era eu e continuava mesmo com a mesma impressão, comecei a passar pelo meio das pessoas até conseguir sair do interior do bar. Respirei fundo assim que senti o ar frio a bater-me na cara e arrepiei-me ligeiramente pela mudança de temperatura.
- Jessica. - ouvi uma voz atrás de mim que me fez gelar - Eu sabia que ias voltar aqui. - disse ele com um sorriso. O Peter tinha sido um dos poucos com quem tinha tido uma relação séria se é que se podia chamar séria a alguma das relações que eu tinha tido. Mas claro, depois as coisas tinham começado a dar para o torto e eu tinha decidido que estava na altura de acabar, coisa que não lhe agradou.
- O que é que queres? Eu não mudei de ideias se é o que pensas. Acabou naquela altura e não vai recomeçar agora.
- É por causa daquele riquinho que estava contigo? - perguntou ele à medida que se ia aproximando, mesmo quando eu me ia afastando cada vez mais - Bem, eu tinha esperanças que tivesses mudado de ideias mas sendo assim.. sabes, é que se não podes ficar comigo, vou assegurar-me que ninguém vai querer ficar contigo.

Já tinha bebido duas bebidas, ao contrário do que esperava ficar não estava mais divertido, estava mesmo a ficar mais deprimido, isso só ia estragar a noite de Jessica, mais valia não a ter trazido e ficar apenas pelo restaurante romântico. Olhei para trás para ver se a via mas não, não estava ali ninguém. Juntei as sobrancelhas e estiquei-me para a procurar melhor - Jo....
-Eu vi-a sair - disse uma das empregadas de Joseph. Suspirei encostando a cabeça ao balcão.
-Ela miúda é tão complicada - resmunguei para mim próprio.

Antes de conseguir fazer o que fosse, senti o meu cabelo a ser agarrado com força e fechei os olhos soltando um gemido de dor quando senti as minhas costas a embater na parede que estava atrás de mim. Senti-me a escorregar pela parede e antes de ter tempo de me levantar, comecei a sentir os pontapés no meu tronco o que me fez encolher automaticamente - Ainda podes mudar de ideias. - disse ele encostado ao meu ouvido e soltei uma gargalhada, mordendo-lhe a bochecha com toda a força que tinha até sentir sangue na boca - Sua cabra! - parecia que a minha cabeça me ia sair do pescoço assim que o Peter cerrou a mão num punho e me deu um soco.
- Ao menos para que alguém não goste de mim, tu tens de me bater. Com essa tua cara é normal que ninguém goste de ti. - disse soltando outra gargalhada rouca antes de cuspir sangue e sentir outro pontapé nas costelas.

-Porque é que não vais ter com ela - eu já não estava a ver muito bem, estava tudo um bocadinho baço e se saísse daquela cadeira caía redondinho no chão.
-Porque é que eu tenho que ser uma pessoa tão deprimente? - perguntei batendo sempre no mesmo assunto, a gaja devia estar farta de me ouvir - até ela foge de mim. - desta vez porque estava chateada esperava eu, preferia que assim fosse, porque se ela fugisse para nunca mais aparecer... Suspirei fechando os olhos quando encostei a cabeça ao balcão e sentia-me ser abanado.
-Keith, vai para casa, vai dormir e amanhã falas com ela - fiz uma careta e olhei para o chão que estava mais longe que o normal. Passei a mão pela minha cara e suspirei agarrando-me ao balcão para sair do banco, fiz uma careta por quase cair, mas consegui manter-me em pé.

Deixei-me estar encolhida no chão, de olhos fechados à medida que sentia os pontapés no meu tronco que iam sendo trocados por socos na minha cara. Nem queria pensar no meu estado depois disto porque sabia que ele não me ia matar, ia simplesmente deixar-me horrível, com a cara toda inchada e o corpo todo dorido.
- Só não acabas com isto porque não queres. - disse ele o que me fez rir de novo e quando o fiz, tossi um bocado de sangue.
- É preferível parecer um zombie a ficar o resto da minha vida contigo. Ainda bem que devolvi o anel. - disse com um sorriso nos lábios e sabia que nem o meu sorriso devia ser uma coisa sexy porque só sentia sangue na boca.
O Peter estava a preparar-se para mais uns pontapés quando se começou a ouvir barulho de pessoas a passar - Estás mal o sufuciente. - disse ele com um sorriso orgulhoso - Já sabes onde é que eu estou quando o outro não quiser saber de ti. Ainda tenho o teu anel lá. - disse com um sorriso antes de desaparecer.

Não devia ter bebido tanto, mas nem tinha dado por ela, só agora notava quando estava a andar e parecia tudo lento em relação a mim. Na entrada do bar havia alguma agitação, havia um aglomerado de pessoas juntas que pareciam preocupadas. Levantei uma sobrancelha, não estava tão bêbado assim para não pensar que alguma coisa se passava. Olhei para a estrada vendo que não tinha sido um acidente e olhei em volta. "O grito veio dali, quem é que vai lá?" O resto da conversa perdeu-se porque eu comecei a correr para um dos becos que haviam. Não fazia a minima se era para aquele que estavam a falar, foi apenas uma questão de sorte quando a encontrei. A primeira coisa que fiz foi olhar em volta - Jess - chamei baixinho. Caí de joelhos ao lado dela e passei os dedos pelo seu braço - o que é que aconteceu? - perguntei sempre no mesmo tom.

Pisquei os olhos várias vezes quando ouvi a voz do Keith e não consegui não deixar de me rir - Parece mesmo que morri. - parei de me rir assim que senti mais sangue a escorrer-me pela boca e fiz uma careta de dor, tentando olhar para o Keith mas devia estar com a cara com um estado tão lastimável que mal o conseguia ver. Voltei a fazer uma careta de dor e tentei encolher os ombros mas nem isso conseguia fazer - Ex-namorado com muitos problemas. - respondi-lhe com um meio sorriso acabando mesmo por fechar os olhos por me sentir tão fraca - Já se foi embora.

Pressionei os lábios um no outro enquanto olhava para o estado dela e baixei-lhe uma alça do vestido para ver as marcas vermelhas que ela tinha. Estava com tanto álcool no sangue que as minhas emoções ficavam à flor da pele, cerrei o maxilar quando ele tremeu. - Não te devia ter deixado ir embora - murmurei - mas quando olhei já não estavas - encostei a minha testa à dela não me importando minimamente com o sangue que me faziam lembrar coisas que não devia. - O que é que eu posso fazer? - perguntei - Levar-te ao hospital - não deixei que ela falasse - é isso - respirei fundo.

Voltei a fechar os olhos quando o Keith juntou a sua testa à minha e abanei a cabeça ligeiramente, não conseguindo fazê-lo mais - Não tens culpa. - disse antes que ele se começasse a culpar pelo que me tinha acontecido e tentei esticar os braços para me agarrar a ele mas nem isso conseguia fazer. Fiz uma careta quando o ouvi falar em hospital - Quero ir para casa. - pedi sabendo que ele não ia fazer o que eu queria e ia mesmo acabar por me levar ao hospital, ele é que conseguia ver o estado em que eu estava e acreditava que não fosse nada bonito - Não deixes o Tommy ver-me assim. - pedi com um suspiro.

Ignorei quando disse que não tinha culpa. Se tivesse ido atrás dela antes de ir para o balcão beber todas aquelas bebidas que me tinham deixado todo bêbado ela não estaria assim. Agarrei-a ao colo vendo que as pessoas curiosas já começavam a vir à procura do grito que tinham ouvido. - Quem é que te fez isto? - perguntei. Já sabia que tinha sido um ex-namorado, mas eu queria saber quem era porque ia parti-lo todo. Ia mata-lo se fosse preciso. Estava com uma raiva tão forte que era capaz de o fazer. - Vou levar-te ao hospital - disse-lhe começando a aperceber-me de algo - só não sei como - com uma mão procurei pelo meu telemóvel.