Discoteca

Fechei os olhos e respirei fundo. E eu que dizia constantemente que ia para o inferno por causa do meu comportamento de cabra, mas eu não era nada comparada com ele. Ele estava no patamar mais alto de ser idiotamente cabrão. Atirei-lhe uma bola de papel à cabeça quando virou costas - Eu não confundo, está descansado. Tu é que te deves confundir já que pareces uma rapariga. - abri a torneira e peguei num papel para me tentar limpar melhor - Nem pila tens. - resmunguei enquanto me tentava limpar o melhor que conseguisse. Não queria acabar já a noite e ir para casa.

Parei à porta quando ouvi a última frase do que ela disse e fiz um sorriso forçado e nada bonito de se ver. Ela não tinha dito aquilo. Rodei os calcanhares meia volta e fechei a porta de novo, ficando parado durante uns segundos enquanto a fechava à chave. - Queres repetir o que disseste? - perguntei começando a ir na sua direcção enquanto olhava os seus olhos És uma menina Kenneth Encolhi a cabeça como um tique nervoso, para tirar aquela voz dele na minha cabeça e cheguei à frente dela.

Parei de me limpar e fechei a torneira assim que o vi voltar atrás e trancar a porta da casa de banho. Engoli em seco mas meti-me direita para tentar afastar o medo. Claro que eu tinha medo dele, como é óbvio, mas não podia mostrar isso, tinha de ser forte. Comecei a andar para trás assim que o vi a aproximar-se de mim enquanto me olhava nos olhos e mordi o interior da bochecha assim que senti as minhas costas contra a parede fria da casa de banho. Estava a rezar para que a voz não me falhasse - Nem pila tens. - repeti e agradeci aos céus por a minha voz ter soado normal - Já repeti.

Não podia avançar mais ou esmagava-a contra a parede, mas fiquei perto dela, cerrando o maxilar quando ela voltou a repetir. Estava menos assustadiça que antes, mas andava a irritar-me mais, a ser demasiado respondona e a provocar-me demasiada raiva. Agarrei-lhe no queixo com força e aproximei-a de mim - Queres experimenta-la? - perguntei não deixando de olhar os seus olhos.

Tive de virar a cara para cima para o conseguir olhar. Sim, eu era mesmo pequena, credo. Engoli em seco quando senti os seus dedos no meu queixo e mordi o interior da bochecha enquanto ele me continuava a olhar nos olhos. Nunca tinha reparado mas ele tinha uns olhos lindos. Oh por amor de deus, a sério? Afastei o meu queixo da mão dele e continuei a olhá-lo - Sabes que isso é exatamente o que os castrados ou travestis dizem?

Cerrei a mão num punho e fiz o mesmo ao meu maxilar, voltando a agarrar-lhe no queixo e encostei-a à parede com força - pára de me provocar, tu gostas que eu te magoe? - perguntei encostando-a com mais força e abri o meu fecho das calças, agarrando-lhe numa mão e enfiando-a nos meus boxers, fazendo com que ela a sentisse. Arrepiei-me da cabeça aos pés mas fiquei a olha-la na mesma- não, eu não sou nada disso.

Tentei voltar a afastar o meu queixo das mãos dele mas era impossivel, ele tinha mais força - Mesmo que não goste, tu fazes na mesma. - disse com um revirar de olhos. Baixei o olhar quando o ouvi a abrir o fecho das calças e antes de conseguir afastar a mão, ele agarrou-ma e enfiou-ma nos seus boxers, fazendo-me engolir em seco - Estás assim tão necessitado? - sentia o meu corpo a ser espalmado contra a parede e o peito dele. Passei os dedos levemente pelos seus boxers enquanto o olhava e encolhi os ombros - Se calhar és gay.

Desta vez estremeci e rapidamente lhe afastei a mão puxando o fecho para cima, para o fechar.
-És masoquista, é melhor estares calada, antes que eu me irrite a sério contigo - disse-lhe dando-lhe uma chapadinha na cara, sem força, afastei-me dela, indo abrir a porta que tinha fechado à chave e, desta vez, saí mesmo da casa de banho que já se estava a tornar insuportável.

Abanei a minha mão assim que a largou e fiz uma careta quando me deu uma chapada na cara. Apesar de ter sido sem força e nem ter doido, aquilo irritou-me a sério. Ajeitei o meu vestido e sai da casa de banho também, indo atrás dele. Agarrei-lhe no braço para o fazer parar e dei-lhe uma joelhada mesmo no meio das pernas - Caladinha. - disse-lhe com um sorriso cinico antes de ir até ao balcão pedir outra bebida e deixá-lo ali.

Virei a cara quando senti alguém agarrar-me no braço e assim que Summer apareceu ao pé de mim, nem tive tempo de reagir, só de me encolher e gemer de dor, deixando-me cair no chão, ficando sentado a um lado. - Porra - cerrei os dentes batendo com a cabeça na parede e respirei fundo, sentindo a dor começar a abrandar. Levantei-me quando me senti decente para andar e procurei a pessoa mais baixa que havia na discoteca, vendo-a depois no balcão. Agarrei-a pelos cabelos, não a puxando, deixei que estivesse sentada no balcão e fiz com que ela olhasse para mim enquanto eu lhe metia um cristal no copo da sua bebida, ia ficar com uma moca que nem se ia lembrar de nada - estás lixada comigo - disse-lhe largando-a bruscamente e saindo mais uma vez da sua vista.

Encolhi-me toda assim que senti os meus cabelos a serem ligeiramente puxados. Engoli em seco quando vi o Kenneth e revirei os olhos quando disse que estava lixada com ele - Não te devia ter doido, tens uma pila tão pequena que não percebo. - disse de queixo erguido. Voltei a revirar os olhos assim que ele se foi embora e peguei no meu copo, bebendo o conteúdo de uma só vez. Ele era tão estúpido, não percebia como é que não o ignorava de uma vez e acabava com isto tudo, mas eu sabia que não ia acabar e além do mais, depois de todos estes anos a sofrer por causa dele, não conseguia deixar de responder agora que tinha coragem para o fazer.
Assim que me levantei para ir dançar, senti-me meio tonta e esquisita. Pisquei os olhos várias vezes e agarrei-me a quem me agarrou evitando que eu caisse - Estás bem? - perguntou-me uma voz ao ouvido. Abanei a cabeça enquanto tentava arranjar força nas pernas para me equilibrar - Anda, eu vou ajudar-te. - assenti com a cabeça e mal senti a mão que descia pelas minhas costas até ao meu rabo. Sentia-me muito estranha e praticamente era como se não estivesse no meu corpo.

Sorri levemente e enfiei-me no meio da multidão, encostando-me depois a uma parede de onde tinha vista para a pista de dança e a zona do bar onde ela estava. Era bem feita, não tinha nada que me agredir, nunca lhe tinha feito alguma coisa parecida. Esfreguei as minhas partes ainda doridas e fiz uma careta.
-Isso não são coisas de se fazer aqui - disse uma rapariga que se veio meter comigo, ao mesmo tempo que vi Summer levantar-se e quase cair. Semicerrei os olhos quando vi que a pessoa que a agarrava a estava agora a apalpar e comecei a amaldiçoar-me mentalmente.
-Eu não estou a fazer nada de mal que eu saiba - resmunguei com os olhos nela, para ver o que é que acontecia.

- Vamos onde? - perguntei toda tonta enquanto colocava o meu braço melhor à volta do pescoço do rapaz para não cair. Pareceu-me vê-lo sorrir mas até a minha visão começava a ficar meio afetada e parecia tudo mais brilhante e estranho - Estás a apalpar de mais. - disse enquanto sentia as mãos dele a passar pelo meu corpo apesar de ser por cima do vestido.
Ele agarrou-me melhor pela cintura com o braço que tinha lá e continuou a fazer-me andar - Vamos para um sitio mais sossegado, precisas de descansar.

Boa Kenneth, ela ainda acabava violada e a culpa era tua. Claro que era, eu tinha que fazer sempre a porcaria. Olhei para a gaja que não se calava e dei-lhe um saquinho. Não lhe disse mais nada porque no saco estava o meu nome de vendedor e o número de telemóvel também de vendedor, eu não corria riscos. Precisava de novos contactos. Deixei a gaja a falar sozinha e comecei a andar na direcção do gajo e de Summer, que começavam a desaparecer do meu campo de visão.

Fiz uma careta quando comecei a sentir-me cada vez pior, entre um estado de alegria e um estado de ausência, como se não estivesse no meu corpo, estivesse a ver de fora dele. Olhei em volta quando saimos da discoteca e levantei uma sobrancelha - Vais levar-me a casa? - perguntei confusa à medida que ele me levava pelo parque de estacionamento - Tu não sabes onde é que eu moro.

Suspirei quando ele foi mesmo para fora da discoteca e abanei a cabeça, não, isso eu não podia deixar que ele fizesse. Ela ainda me aparecia morta e o culpado era eu que lhe tinha colocado a droga, ela provavelmente nem sabia do quão drogada estava. - Hei - gritei um bocado longe deles e comecei a dar uma corridinha, vendo o gajo todo encaralhado por eu o ter visto - eu conheço-a - apontei para a gaja - eu levo-a a acasa - o problema é que também não sabia.

Levantei a cabeça que estava meio pendida para a frente quando ouvi a voz do Kenneth e abanei a cabeça - Ele não. - murmurei de olhos mais fechados do que abertos - Ele faz-me mal. - agarrei-me melhor ao pescoço do rapaz e colei quase a minha cara à dele - Não deixes a menina levar-me a casa, ele é mau, leva-me tu. - sentia a cabeça completamente pesada e prestes a explodir.

Revirei os olhos quando Summer começou a falar - ah mas tu reconheces-me até nesse estado é? - aproximei-me dela e o rapaz agarrou-se à cintura dela, vendo a sua mão descer-lhe pelo rabo. Abanei a cabeça e ele fez um sorriso de otário nojento.
-Tu ouviste-a puto. - cerrei o maxilar, aproximando-me o suficiente para os separar.
-Eu ouço, mas não obedeço - agarrei no braço de Summer puxando-a.

- É dificil não reconhecer uma menina de barba. - disse de olhos semicerrados e mexi as sobrancelhas. Fiz uma careta quando senti as mãos do outro a descer pelo meu rabo mas acabei por encolher os ombros, se calhar era só impressão minha, também parecia que haviam luzinhas a saltitar à minha frente e eu sabia que isso era impossivel. Comecei a bater na mão do Kenneth quando agarrou no meu braço para me puxar e acabei por me ter de agarrar ao pescoço dele para não cair já que mal tinha força nas pernas - Estás a magoar-me, parvalhão.

-Cala-te - resmunguei baixo enquanto a puxava para que ela parasse de me chamar menina. Olhei-a assim que disse que a estava a magoar e aliviei a pressão que fazia no seu braço, tentando força-la a andar - desculpa - acabei por pedir com um revirar de olhos. Cerrei o maxilar quando o outro estúpido veio atrás de nós.
-Ela não quer ir contigo meu - empurrou-me para que eu a largasse e eu suspirei pesadamente, fechando as duas mãos, transformando-as em punhos.
-Estás lixado comigo - disse entredentes, dando um passo em frente até lhe dar um murro certeiro no nariz.

Ia gozar com ele outra vez quando o ouvi a pedir-me desculpa. Pela primeira vez na vida. Assenti com a cabeça e deixei que ele me levasse, afinal já não me estava a magoar e de qualquer maneira, no meu estado não havia muito que pudesse fazer para impedir. Arregalei os olhos e tive de me agarrar a um carro assim que o Kenneth me largou para se atirar ao outro, dando-lhe um murro mesmo no nariz - Au. - disse com uma careta - Deve ter doido.

Vi-o agarrado ao nariz, ao mesmo tempo que alguns pinguinhos de sangue caíam pela sua mão e encolhi os ombros - eu avisei - disse virando costas, sempre alerta para o caso de ele apareceu por trás, mas não o fez. Olhei para Summer, que tinha os olhos arregalados e encolhi os ombros colocando, desta vez, a mão sobre o seu ombro - anda, eu levo-te a casa - olhei-a - se me disseres onde é que é.

Fiz uma careta e abanei a cabeça quando o Kenneth apareceu ao pé de mim e disse que me ia levar a casa - Não não. Tu és mau para mim e não vou dizer onde moro a uma pessoa que é má para mim. - pisquei os olhos várias vezes e desatei a rir-me quando vi mais luzinhas a saltar mesmo à frente dos meus olhos - E como é que eu sei que não abres outra vez as calças e me agarras na mão no meio do caminho, hm? - abanei a cabeça - A operação foi bem feita, deixa que te diga. - juntei as sobrancelhas enquanto assentia - Tens ai uma coisa mais ou menos jeitosa.

Fechei os olhos, respirando fundo, mas quem é que a aturava? Eu não decerteza, não tinha paciência para conseguir atura-la, muito menos neste estado. Eu metia-me em cada uma. - Summer, pára de dizer merda e diz-me onde moras, eu não te faço nada, não te quero para nada ao contrário do outro gajo. - parei à frente dela enquanto a abanava. Eu não a ia deixar sozinha na rua, isso também era ser demasiado insensível.

- Não me queres para nada? - repeti as palavras dele e afastei-me dele quando me começou a abanar. Levantei o queixo para o olhar e cerrei o maxilar com força enquanto piscava os olhos várias vezes - O que é que eu tenho de mal para só me tratares mal e gozares comigo? É porque sou tão feia e esquisita que não sirvo para nada e tu não me queres para nada? - cruzei os braços e comecei a andar - Deixa-me em paz. Eu sei o caminho.