Areal

Fiquei a olhar para o céu enquanto ela estava calada e acabei mesmo por olhar para os lados como se ainda tivesse esperanças que uma das duas aparecessem, mas nada. Claro.
Assenti com a cabeça sem dizer nada quando falou, só depois sentindo o seu corpo contra o meu. Suspirei abraçando-a e beijei-lhe a testa.
-O que é que se passa Mads?

Senti os seus braços a rodearem o meu corpo, como sentia saudades disso. Larguei um simples suspiro e aninhei-me nele calada e a preparar para lhe responder de forma menos bruta contrariando o que outrora fizera. - E tu? Porque estás sozinho? - preferi perguntar-lhe outra coisa invés de lhe responder, mas se não o fizesse ia ficar com isto preso..na verdade também tinham de contar a alguém todo este sofrimento dentro de mim precisava de ser deitado cá par fora. - Simplesmente fui deixada sozinha, como tu. - novamente, pensei para mim deixando-me guardar o triste comentário de forma a não o ferir.

Fiquei calado quando ouvi a sua pergunta e engoli em seco, já lhe tinha dito mas não me apetecia contar pormenores. Fechei os olhos encostando a minha testa na seu ombro esperando que ela continuasse, eu conhecia-a bem demais para saber que ela ia responder se eu não falasse.
-Quem foi o patife? - revirei os olhos e afastei a cabeça do seu ombro para a olhar.

A culpa foi minha. - murmurei. - Desta vez foi minha. - baixei o olhar porque eu é que tinha começado com os ciumes naquele dia e a discussão acabou mal. O Keith fazia-me tão , mas tão bem. Deixei-o ficar comigo. - E tu não falas? - perguntei baixinho. - Se não deitares cá para fora é pior, já devias saber disso. - acabei por beija-lo no queixo, embora quisesse beija-lo na bochecha mas estava demasiado longe para eu o poder fazer.

-Então tenta resolver isso - encolhi ligeiramente os ombros com uma careta e fiquei a olhar para ela tocando-lhe na bochecha depois de me beijar o queixo - Não tenho nada para falar, eu estava com uma.. amiga aqui e quando acordei ela não estava. Andei a sonhar um bocado. - sim, porque só podia ter sido isso.

-Quando te vi da outra vez parecias apaixonado. - murmurei tentando tocar no assunto e olhei para o céu ficando calada, não sei porquê...mas o meu coração apertava quando ele falava de outras raparigas, gosto de ser unica para todos, sou egoista.
A verdade é que a Sophie para ele sempre iria ser tudo, eu nunca iria fazer com que ele a esquecesse ou até que ele gostasse mais de mim do que alguma vez gostou dela...tanto tempo passou e eu acabo de descobrir que sempre estive confusa com tudo e todos.

Desviei o olhar dela e afastei-me ligeiramente ficando deitado de barriga para cima novamente.
-Parecia? - perguntei acabando por fazer uma careta e encolhi os ombros - pois, parece que não estou agora - disse. Ah sim, agora era mais eu.

-Ah..sim pois. - forcei um pequeno sorriso e aninhei-me em mim mesma. - Pareces um croquete cheio de areia. - resmunguei por ter ficado com uma parte da cara cheia de areia, tirei a mesma e voltei a deitar-me envolvendo o meu cabelo com os pequenos grãos de areia. - Eu...acho que vou para Portugal. - murmurei e olhei para ele, certamente não conhecia a terra, ou aquele bonito país. Estava decidida a ir embora e embarcar nesta viagem sozinha, sem ninguém...embora precisa-se muito deles todos.
Provavelmente, ele estava ciente que nunca mais me ia voltar a pôr a vista em cima...deviam estar todos cientes que me iam perder para sempre. talvez não iam dar pela minha falta se eu não os avistasse, aposto que neste ano nem se deu conta da minha existência.

Olhei para a minha roupa ainda molhada e soltei um pequeno suspiro e um encolher de ombros.
-Está frio aqui - resmunguei mais para mim do que para ela e sentei-me no preciso momento em que ela disse que ia para Portugal. - E acho que ficaste doente por causa disso - revirei os olhos e levantei-me puxando-a para que fizesse o mesmo - vamos embora daqui. - disse puxando-a pela mão e acabei por olha-la. - tu não vais a lado nenhum.

-Não fiquei nada doente. - resmunguei e levantei-me cedendo a força que ele propusera para me levantar. - e vamos para onde? - perguntei suspirando, apanhei os ténis e segui com ele de mão dada sem me importar com nada. - vou sim Keith, vou e ponto final. - baixei o olhar e por muito que me custasse dizer isso tinha de o fazer. - Não me vou magoar mais uma vez, todos têm pessoas especiais que se ligam entre elas e eu quebrei o laço com todas...até contigo, nós já nem somos o que éramos antes. .- fitei o chão ao relembrar-me dos velhos tempos de amizade. - Foi o pior ano da minha vida, preciso de mudar e de encontrar pessoas novas, amigos novos, amores novos. - olhei-o nos olhos com eles bastante vermelhos de aguentar o choro. - Não sabes o que é passar um ano sozinho, sem ninguém.- acabei por dizer porque sentia-me mal em não ter tido ninguém, estava sozinha e tinha-me apercebido disso da pior maneira.

Abanei a cabeça quando ela disse que ia para Portugal toda decidida. Eu não a ia deixar, já tinha deixado ir muita coisa embora, não a ia deixar ir a ela.
-Não, não vais, eu não vou deixar - suspirei com o que ela dizia e passei a mão livre pela minha cara - a sério que achas que não sei Mads? Eu passei praticamente aqueles.. - não me conseguia lembrar do acidente - dois anos sozinho, mal via a minha irmã. Não digas que não sei.

- Tu não tens que deixar, eu não pedi permissão a ninguém. - baixe o olhar com o que ele disse e fitei-o furiosa. - Mas eu quis saber de ti, eu e todos mas tu não estavas para ali virado. Uma coisa e sofrimento outra é solidão Keith. - larguei a mão dele e afastei-me um pouco para respirar e acalmar-me. - Ouve tu não tens culpa, ninguém têm culpa...são as circunstancias da vida.

-Não interessa, eu rapto-te e não te deixo sair de minha casa, tu não vais a lado nenhum - apertei-lhe a mão apesar de ela depois a largar e passei as mãos pelo cabelo já a passar-me com aquela conversa. - Ya, todos quiseram saber de mim, obrigado mas não ia mudar nada. - disse começando a andar mais, deixando-a um pouco para trás mas acabei por parar à espera que ela me alcançasse. - tu não vais sozinha para lado nenhum.

-Raptas, raptas. - resmunguei baixinho mais para mim do que para ele, tão baixo que se tinha tornado imperceptível. - Eu sei que não ia, eu sei que doí mas também sei que é bom termos amigos para nos apoiarem. - andei mais depressa de forma a alcança-lo e coloquei a mão na cara dele. - Não quero que penses que estou a ser egoísta. - murmurei pois não o estava a ser, não estava a querer a dor só para mim...mas de certa forma queria viver de novo outra vida para não voltar a falhar. - Keith acabou, percebeste? Acabou! - proferi já irritada e com as lágrimas a caírem-me de nervos.

Senti as mãos dela na minha cara e desviei o olhar do dela enquanto falava. Encolhi os ombros quando disse que não estava a ser egoísta, nunca tinha pensado nela como uma pessoa egoísta.
-Não podes ir, está bem? - perguntei levantando o olhar para ela já mais calmo e agarrei-a pelo pescoço puxando-a mais para mim - não vás. - acabei por abraça-la.

-Mas eu preciso. - murmurei contra o seu pescoço e deitei lá a minha cabeça.- Preciso muito mesmo. - acrescentei tempo depois.
-Desculpa se te vou magoar então. - pedi e sacudi a areia da camisola dele com cuidado e delicadeza. - Trouxe o carro, queres vir? - acabei por perguntar passado algum tempo.

Continuei abraçado a ela o tempo que foi preciso, mas acabei por me afastar depois começando a subir umas escadas que iam dar ao estacionamento.
-Não vais porque eu não te vou deixar - disse encolhendo os ombros - posso ir a pé, estou todo sujo e molhado.

-Não sejas estúpido. - murmurei ignorando tudo aquilo que outrora ele tinha pronunciado. - Entra no carro e vêm comigo para casa, tens de tomar banho. - conjecturei ao ver o estado lastimavel em que ele se apresentava. - Queres vir para a minha casa ou queres que te deixe na tua?-perguntei fixando o olhar nele.

Revirei os olhos quando me chamou de estúpido e abri a porta do seu carro já que fazia tanta questão que eu fosse com ela. Olhei para mim mal uma luz caiu sobre mim e fiz uma careta tirando a camisola que me estava a fazer impressão por estar completamente gelada.
-Conforme o caminho, não vale a pena passares por minha casa se não ficar a caminho. - encolhi os ombros sacudindo-me antes de entrar.

-Sabes bem que a tua casa é primeiro. - murmurei arrancando com o carro, ia deixá-lo em casa e fazer as malas para amanhã ou assim abandonar a minha terra, O meu carro estava arrumado mas haviam montes de papeis com casas em Portugal no banco de trás e uma escolhida. Essa casa escolhida estava marcada com um circulo vermelho e era a casa mais bonita que alguma vez já tinha visto...ia partilhá-la com cerca de 6 estudantes, 5 deles rapazes. Não parei na casa dele e segui, lembrei-me que tinha roupa do Keith de dois anos atrás que lhe deviam servir. Arranquei com o carro com mais velocidade após um semáforo e parei quando havia estacionado na garagem. Saí e não esperei por ele para entrar em casa com algumas caixas já empacotadas...mas não era para ir para Portugal, eram coisas para dar ou assim.

Encolhi os ombros encostando a mão à cara enquanto olhava para o caminho. Fiz uma careta quando vi a minha casa a passar e apontei para a rua mas nem falei quando percebi que ela estava concentrada. Olhei para trás para ver se arranjava uma manta qualquer que me conseguisse aquecer e quando encontrei uma suspirei quando vi uma casa com um circulo. Agarrei nas duas coisas e fiquei a olhar para aquilo mesmo depois de ela parar em casa dela. Saí devagar e fui ter com ela colocando-me à sua frente.
-Estás a fugir, porque é que simplesmente não vais falar com ele e resolvem tudo?

-Porque não há nada para resolver. - confessei baixinho e virei a cara, as minhas mãos tremiam e olhei a volta de tudo baixando o olhar.-Eu sei que não querias vir para aqui. - murmurei passado um bocadinho de tempo e comecei a andar até a casa de banho. - Sabes onde estão as toalhas e assim, há roupa tua no quarto de hospedes...também vou tomar banho lá acima. - murmurei baixinho e afastei-me um pouco fitando-o.

Guinchei quando ele me agarrou e comecei a espernear-me debaixo dele - larga-me seu estúpido, deixa-me em paz. - Disse a tentar soltar-me.

- E agora? Vais tomar banho em alcoól? - perguntei segurando-a bem. - Pede desculpa.

- Não vou pedir desculpa nenhuma. Larga-me antes que eu grite...
Ameacei.